segunda-feira, 5 de maio de 2008

O casamento

HOMEM + MULHER = CASAMENTO, será?



Casamento, relação histórica entre o homem e a mulher. Até pouco tempo, por nossa sociedade ocidental era a única possível e exigia da parte feminina a aceitação de sua fragilidade, mesmo que não fosse bem assim, e do homem de sua virilidade, mesmo que isto custasse-lhe a vida. Hoje, em um mundo onde a mulher está cada vez mais viril, mesmo que isto venha lhe custando a delicadeza, e o homem bem mais suscetível, mesmo que isto venha lhe trazendo uma sensação tremenda de descontrole, o casamento é motivo de campanhas, seja para salvá-lo, seja para condená-lo.

Tentando buscar uma saída para este impasse da relação entre a mulher-homem, John Gray criou a tese que os homens são de Marte e as mulheres são de Vênus, e desde que reconheçam esta diferença básica estarão preparados para viver juntos. Para o autor, os Marcianos dão muita importância ao trabalho, aos desafios e às conquistas. Já as Venusianas gostam de conversar para criar relações e compartilhar sentimentos. Será que esta maneira de caracterizar homens e mulheres não está superada?

Ela retrata uma forma de sociedade cultural que está ultrapassada, onde os homens trabalhavam na rua e as mulheres ficavam em casa, lidando com os afetos da família e os do marido. É preciso reconhecer que este universo está mudando, um exemplo é o nosso blog o.vento.me.disse, que foi criado e vem sendo gerenciado por uma mulher.

Por outro lado, os homens querem falar cada vez mais de suas emoções, e como diria Caetano Veloso, eles se tornaram cada vez mais românticos. Isto é, as mulheres andam reconhecendo seu lado marciano e os homens, o lado venusiano, esta não é uma das vantagens do nosso tempo?

Buscando ver o casamento sob um olhar mais transcendental, o filósofo Osho nos explica que existem dois aspectos fundamentais para que os homens e as mulheres tenham uma bela relação.

1 - a consciência de que felicidade é um dom interior e que não dependemos de ninguém para ser feliz.

2 – E se felicidade está dentro de nós, ninguém e nem nada conseguirá destruí-la, nem poderemos reclamar do outro a nossa felicidade.

É uma verdade que a busca da própria luz é fundamental para o nosso bem estar no mundo, mas é verdade também que quando isto significa ir de encontro aos interesses do outro, impomos a ele a dor e a tristeza. O que fazer então?

Para a psicanalista e sexóloga Regina Navarro Lins, aí é que mora o problema e, por este motivo, o casamento deve ser condenado, como uma instituição ultrapassada e fadada à mesmice. Recusando o desejo, acaba o tesão. Para esta autora, a relação entre o homem e a mulher está marcada pelo sexo, pelo bom sexo, onde o que está em questão é o aprendizado sobre si mesmo e sobre o prazer. É óbvio que numa relação duradoura é impossível manter este clima, pois entra em campo a fidelidade, o controle e o ciúmes, que necessariamente levam ao parceiro ou parceira a recusar os seus próprios desejos, em prol da felicidade alheia. Alheia?? Será que esta visão não aprisiona a relação entre o homem e a mulher sob um único ponto de vista – o sexual,.Desta maneira, acabando o desejo sexual, ou mesmo estando ele sob temporária suspensão, o relacionamento acabou?

Em um texto monumental intitulado Masculino/Feminino – o olhar da sedução, publicado no livro O Olhar, a psicóloga Maria Rita Kell nos ensina que entre o homem e a mulher surgirá sempre um jogo de conquistas, entre sedutor e seduzido, onde a dor de perder-se no outro e de ter o outro em nossas mãos só pode ser superada de uma maneira: o amor. A relação entre o homem e a mulher é fruto deste empate amoroso, e não da luta. Agora , como lidar com esta afirmativa se ela nos leva a um lugar ainda menos seguro que é o campo do Amar?

Através do poema “As sem razões do amor“, de Carlos Drummond de Andrade, aprendemos que:

“O amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca
não se conjuga..."

Percebemos que é impossível definir o amor de uma única maneira. Tão pouco se deve idealizá-lo como a única oportunidade de compartilhamento perfeito entre dois seres, pois ele não se conjuga. Por outro lado, é preciso refletir muito sobre estas correntes de pensamento que vem condenando a relação entre o homem e a mulher, banalizando ou gerenciando o casamento pela otimização do desempenho sexual e/ou profissional. Este tipo de pensamento elimina da relação amorosa uma das suas mais importantes qualidades: o seu valor como exercício de auto-aperfeiçoamento, dirigido para a vida em comum com as pessoas que amamos.

E tomando como nossas as palavras de Jurandir Freire Costa, em outro livro maravilhoso e infelizmente pouco conhecido O Amor romântico, nem fraude, nem favor, é preciso reconhecer que cada experiência amorosa traz em si “a dor e a delícia de ser o que é “. Desta maneira, as regras do jogo amoroso devem ser reinventadas, a cada relação, ou nas diversas relações que estabelecemos com o nosso único parceiro ou parceira. Tudo pode e deve ser questionado: sexualidade, profissionalismo, estabilidade, monogamia, maternidade, paternidade e sobretudo, aqueles terríveis clichês que supõem dar conta das experiências amorosas. O casamento deve ser então fruto deste amor refletido, próprio da especificidade de cada relação e não estar baseado em aforismas ou papéis amorosos vendidos a rodo por aí.

É sobre estes códigos do amor, ou melhor, que limitam a nossa capacidade de amar, incrivelmente arraigados em nós que este mês o E.o.vento.me.disse traz para vocês uma breve história dos casais, através da arte, dando continuidade ao programa Imagem Social da Mulher. Bem Vindos!

Mariana Varzea




O primeiro casal da história não foi Adão e Eva e sim Maria e José. Adão e Eva foram os primeiros seres humanos e nasceram com a função de originar os sexos, em suas diferenças básicas, como vimos no artigo anterior. Já Maria e José não eram casados, mas eram parceiros, moravam na mesma casa e dividiam o dia-a-dia, até a entrada de Deus na vida deles.



Quadro 1 - Na Natividade de Gioto, pintado em 1305 vemos a cena do nascimento de Cristo e a benção recebida pelos anjos. A Virgem Maria protege Jesus com seu manto azul sagrado, enquanto José cochila ausente da paternidade imposta. Por mais cristã e certamente simbólica que seja esta cena, ela traz uma realidade muito comum na época, não havia casamentos, as mulheres pariam e não sabiam quem eram os pais dos seus filhos.



Quadro 2 – O casamento passa a ser uma relação importante a partir do Renascimento, com a necessidade da comprovação da propriedade, ou melhor do direito de herança das terras e riquezas. No Retrato nos Noivos Arnolfini de Van Eick, pintado em 1434, esta idéia está claríssima. A noiva está grávida e o marido orgulhosamente a exibe, muito ricamente vestida como se fizesse parte da casa coberta de veludo vermelho.



Quadro 3 – A riqueza passa a ser um importante atributo nos retratos, principalmente dos casais. Neste Auto-retrato com Isabel Brandt, sua mulher, pintado em 1605, Pieter Paul Rubens, se apresenta como um casal nobre, coisa que não era, vestido de maneira elegantemente rica. Todavia, diferente do quadro anterior, temos a sensação de que há um sentimento que une os dois, primeiro pela expressão delicada e cúmplice do casal, reforçada no entrelaçamento das mãos, depois pela maneira quase desproporcional os corpos tomam conta de toda a área do quadro, e ainda, pelo colorido semelhante das roupas, que traz harmonia a cena e nos mostra porque ele foi considerado um dos maiores pintores de todos os tempos.



Quadro 4 – A intimidade é uma das características do século XVII, pois toda a vida acontece no interior da cada, como podemos ver em outro auto-retrato, pintado 30 anos depois do anterior. Desta vez, Rembrandt se representa com Saskia, sua esposa, em um momento íntimo, ou seja, não era uma pintura para ser vista por todos. O espectador é um convidado e sua entrada na cena é celebrada pelo casal. Apesar de não ser tão detalhista como o anterior, vemos repetidos do quadro anterior alguns elementos que nos lembram do status do casal: as jóias de ouro, a riqueza dos panos, a espada e o chapéu do homem, lembrando que apesar de artistas ambos eram cavalheiros.



Quadro 5 – Em O guarda-chuva, pintado em 1778, Goya nos mostra um lindo casal do povo espanhol, que ao contrário dos nobres vimos no anterior, este amor é regido pelo sol, pela alegria de viver ao ar livre. A juventude começa a ser um motivo de inspiração



Quadro 6 – A saída para o trabalho, Jean Millet, pintado em 1851, vemos anunciado as transformações sociais e culturais do século XIX . A Mulher está na frente e olha para nós. A sua postura é equivalente à do homem. A cena é realista, como queria a arte da época, e traz uma situação interessante: a da mulher trabalhadora do campo, que se libertou muito mais cedo do que as mulheres de família, que viviam na cidade. O casal é companheiro na lida. Apesar da simplicidade da cena, graças beleza da luz, sentimos o impulso dramático da vida nesta pintura.

Quadro 7 – No Despertar da Consciência de William Hunt o que era anunciado por Millet acontecia de fato, só que em plena cidade, na Inglaterra. Estamos diante do casal da revolução Industrial, típico da pequena burguesia, que conquistava a sua independência financeira. A alegria da autonomia, a presença da música e da luz do dia, nos avisa que o despertar de uma nova maneira de viver, onde o prazer tem um lugar especial.



Quadro 8 – O século XX marca a chegada amor e do prazer como elemento fundamental de ligação entre o homem e a mulher. No Beijo de Gustav Klimt, pulsa uma fusão, até hoje atômica entre o homem e a mulher. Na colcha a diferença entre os sexos – a razão dos retângulos é masculina, as delicadeza das flores, atributo feminino. Há proteção, mas há também entrega, um retrato maravilhosamente inesquecível do que é o amor em um casal.




Quadro 9 – Uma vez que é o amor, por mais estranho que ele seja, que une um casal, a vida torna-se uma conseqüência desta potência relação. Nunca ouvimos falar que Maria Bonita e Lampião, de Sáuba, tivessem se arrependido de suas bandalhices. O que nos restou foi uma história de admiração e originalidade, conquistada graças ao amor.

E no século XXI?

O casamento é uma mistura experimentação das diversas formas possíveis de parcerias. Maria Bonita já anunciava que a mulher estava assumindo uma posição diferente no casal. Fonte de idéias e provedora da casa, esta nova mulher quer contribuições para a recriação do dia-a-dia, feito de um presente continuo, que durante milhares só ela tinha o conhecimento de como sobreviver ali. Neste país do rotineiro, só a arte feminina e o novo casamento está mais do que nunca fundado neste mistério. Como nos mostra o cineasta Wong Kar Wai, de musa a operadora fantástica do dia-a-dia, a mulher passa a liderar o drama do amor, carregando no bolso o chaveiro das mil e uma possibilidades do amor.

6 comentários:

Cristine Martin disse...

Olá Mariana!

Acabei de chegar, recomendada pela Rosa (Tessituras), e gostei muito do seu blog! A análise sobre o casamento está muito boa, e gostei também dos quadros e os respectivos comentários (também adoro as artes e em especial, a pintura). Parabéns!

Um abraço,

Cristine

Nonô disse...

Olá, Mariana!
Tb cheguei ao seu blog através da nossa querida Rosa.
Parabéns pelo blog que é mto interessante!
Adorei ver a foto q vc escolheu pª este post. "In the Mood for Love" do realizador chinês Wong Kar-wai, um dos meus filmes preferidos (a banda sonora do filme tb é espectacular).
Obrigada amiga.
Bjinhos,
Nonô

Unknown disse...

olá Nono,

agor já conheço a sua arca de mistérios.

também gostei muito.

beijos,

Carla M. disse...

Mariana,

delicioso chegar aqui e ver uma reflexão tão bem fundamentada sobre o humano, sobre as relações.

vais em fazer pensar muito, todas as vezes que voltar aqui.

Andrea Guim disse...

Oi, Mariana!
Parabéns pelo seu texto bem trabalhado! Foi o primeiro que li e gostei demais! Vou agora ler tudo aos pouquinhos... Sobre o casamento representado pela união de 2 pessoas sob o mesmo teto, não importando o sexo, acho que o que faz a relação funcionar é amizade. Com ela vem o respeito, o carinho, e dela o amor se nutre, se fortalece...
Bjs!

Marcella disse...

Olá Mariana!
Prazer, vi na coluna Gente de ontem dia 15 de abril que vc está fazendo um livro sobre obras de arte nas ruas, e ficou muito impressionada com os grafites do Jardim Botânico, sou artista visual e faço grafites em parceria com meu marido, Daniel Biléu em maioria pelo jardim Botânico, como o "Narciso" no muro do Cap UFRj, e a Veterinária em frente e rua Faro. Gostaria de deixar meu email: marcellafranca@hotmail.com caso se interesse em entrar em contato. Esse texto sobre o amor, de hj vem de encontro com que estamos pesquisando no momento, mês que vem vamos inaugurar uma exposição em Brasília sobre esse tema chamada "Eros e Psique". Um grande abraço,
Marcella França
www.flickr.com/marcellafranca