quarta-feira, 23 de abril de 2008

Bengell e o cinema de 60

Continuando nossa viagem no universo das cineastas, vamos falar das mulheres que fizeram o nosso cinema nas décadas de 60 e 70. Apesar de pertencerem a uma geração em que as meninas sonhavam em casar, Zélia Costa, Helena Solberg e Vanja Orico, fizeram um algo mais pela história feminina brasileira.

Antes, porém, é preciso saber que no anos 50 houve uma ampliação do mercado de trabalho de mulheres na área cinematográfica, em virtude da industrialização do cinema, levada a cabo pela companhia paulista Vera Cruz. As mulheres passaram a exercer funções técnicas como script-girls, montadoras, etc, ao mesmo tempo, que estrangeiras, principalmente duas italianas, nos ensinavam a desempenhar funções especializadas.

A cineasta Maria Basaglia que chegou ao Brasil em 1956, já com larga experiência no teatro e no cinema da Itália, causou estranhamento ao dirigir dois filmes com caráter étnico, Macumba na alta e O pão que o diabo amassou, este em 1958. Com o insucesso dos filmes, dedicou-se com o marido, o italiano Marcelo Albani, ao estúdio de som Odil Fono Brasil, até a volta para a Itália em 1964. Carla Civelli, outra italiana, chegou ao Brasil em 1947 e, rapidamente, integrou-se ao círculo de empresários e intelectuais que impulsionava o movimento cinematográfico de São Paulo, como Assis Chateaubriand, Franco Zampari, Pietro Bardi e Almeida Salles. Além de dirigir É um caso de polícia (1959), Carla participou da equipe de montagem da companhia Vera Cruz e do departamento de corte da Cinematográfica Maristela. Também produziu o teleteatro que Cacilda Becker apresentava na TV Tupi e coordenou as equipes de dublagem do estúdio Cinecastro.

Para o cinema, os anos 60 no Brasil serão absolutamente inovadores. Surge uma crítica intelectualizada que expressa a potência dos jovens cineastas do Cinema Novo. Contudo, a inquietação explosiva do movimento não contemplou as mulheres. As testemunhas não condenam (1962), de Zélia Costa, consta como única direçã de um “longa” feminino da década. Zélia ocupou funções técnicas na Vera Cruz e supõe-se que tenha sido co-montadora do filme Os cafajestes (1962), de Ruy Guerra, que é uma obra prima estrelada por Norma Bengell, absolutamente exuberante e Jece Valadão, totalmente canastrão.

Com a criação de cursos universitários e implementação do Instituto Nacional de Cinema, no início da década, houve a organização de clubes de cinema, revistas especializadas e festivais para amadores, que estimularam a produção de filmes de curta-metragem e a estréia de algumas diretoras. É neste período que Helena Solberg inicia sua carreira, de documentarista, comprometida com a ótica feminista. Seu primeiro filme, A entrevista (1966), é um questionamento dos valores burgueses presentes na educação das mulheres. Recentemente fez um filme de grande sucesso, Banana is my Business, sobre a vida de Carmem Miranda. Todavia, será na seguinte, que surgirá uma produção significativa com assinaturas femininas.

Os anos 70 registram o maior índice anual de produções brasileiras. A realização de filmes de curta-metragem também foi beneficiada, através de uma legislação especial para exibição em cinemas. Um grande número de realizadoras começa a atuar nesta época. Ana Carolina, Suzana Amaral, Tereza Trautmam e Tânia Savietto, dentre outras, dirigiam curtas e assinava longas. Em 1973, tanto a atriz Vanja Orico, a Maria Bonita de O cangaceiro (1973), de Lima Barreto, quanto Lenita Perroy realizavam filmes de longa-metragem, respectivamente O segredo da rosa e Mestiça, a escrava indomável.

Vanja Orico, a quem rendemos uma homenagem especial nesta semana, nasceu em 1932. Por ser filha de um diplomata, morou em diversos países da Europa, expressando desde criança um enorme talento dramático. Em 1952, praticipou do filme Mulheres e Luzes de Frederico Fellini, cantando a música Meu limão, meu limoeiro. No Brasil, chamaria atenção no papel de Maria Bonita, cantando Sôdade e Muié rendeira. Além do filme citado acima, Vanja Orico foi argumentarista da produção Ele o Boto dirigido por Walter Lima Júnior, em 1986.

Nenhum comentário: