sábado, 19 de abril de 2008

Carmem Santos

Lembrando as nossas leitoras que janeiro a coluna história feminina irá falar das cineastas, começando por Cleo de Verbena, a primeira a dirigir uma película no Brasil, vamos dar continuidade com a vida de uma artista muito interessante: Carmen Santos, que além de ser uma atriz muito bonita, teve uma aparição interessante na cinematografia brasileira.

Maria do Carmo Santos Gonçalves nasceu em Vila da Flor, Portugal, em 1904 e mudou-se para o Rio de Janeiro em 1912, naturalizando-se brasileira. Segunda mulher a dirigir um filme no Brasil, Carmem Santos estreou no cinema aos 15 anos como atriz de Urutau (1919), filme comercialmente inédito de William Jansen. O tema do filme já era interessante e inovador. Falava de uma moça humilde que morava no sertão e que por ser muito feia não conseguia arranjar um namorado. O tempo passava, suas amigas se casaram e ela continuava desprezada.

Mantendo ainda alguma esperança de que lhe surgisse um pretendente - pois, afinal, tinha suas qualidades: inteligente, trabalhadeira e boa cozinheira - adquiriu o hábito de sair à noite para passear pelos campos e bosques.Certa vez, em um desses passeios, ouviu que um cavalo se aproximava. Com coração aos pulsos, imaginou que ali vinha o homem que se casaria com ela. Em poucos segundos viu descer de um cavalo, um belo e garboso cavaleiro, um príncipe que se aproximou e perguntou-lhe como podia chegar à estrada principal. A moça habilmente procurou cativar o príncipe pela gentileza e ofereceu-se para acompanhá-lo. Apesar de feia, era muito inteligente e foi fácil manter uma conversa agradável com o príncipe que, impressionado e não lhe percebendo a feiúra, pois não havia luar, pediu-a em casamento. Mas infelizmente, sua felicidade durou pouco. A lua surgiu, iluminando o rosto da jovem. O príncipe, tomado de grande espanto, inventou uma desculpa para se afastar e se foi. A jovem, que de nada suspeitava, ficou esperando o seu regresso.Muito tempo depois, uma feiticeira sua conhecida, ia passando e parou para conversar. A moça contou a ela o que acontecera e pediu para ser transformada numa ave e, assim, poder encontrar logo o príncipe. A feiticeira não queria, mas a jovem insistiu tanto que ela acabou concordando. Partiu, então, a jovem, transformada numa ave feia e desajeitada. Percorreu toda a região por várias vezes e nada de avistar o príncipe, que àquela altura, já estava bem longe.Desolada, a ave - que era o urutau - procurou a bruxa e pediu para voltar à forma humana. Esta, porém nada pode fazer e a pobre teve que se conformar com seu destino de ave feia e triste. É por isso que, quando a lua aparece, o urutau solta aquele grito triste que parece dizer "foi, foi, foi", lembrando o príncipe que fugira da moça feia.

Bom voltando a nossa história, com o filme a atriz fez o maior sucesso e passou a ser a estrela defilmes mudos, como A carne, Mademoiselle Cinema, Lábios sem beijos e Sangue Mineiro , este último uma maravilha do primeiro grande cineasta Brasileiro, Humberto Mauro. Os temas tratavam mais uma vez do feminino, mas em Sangue Mineiro a mocinha sairia vitoriosa. Carmem Santos, fazia a filha adotiva de um milionário mineiro, que sofre uma desilusão amorosa ao ver seu namorado beijando sua irmã. Tenta o suicídio jogando-se num lago, mas, é salva por dois jovens que a recolhem a uma fazenda. Os dois rapazes apaixonam-se por ela. Sua família a procura e após um encontro com sua irmã e seu ex-namorado, Carmen os perdoa. Aceita, então, o pedido de casamento de um dos jovens, enquanto o outro mantém seu amor em segredo.

Em 1933 participou da fundação da companhia Brasil Fox filmes, quando realizou o seu primeiro filme Onde a terra acaba. O filme, dirigido por Mário Peixoto, acabou não estreando, pois a atriz vivia em uma profunda crise existencialOnde a terra acaba". É interessante observar que ano passado Sergio Machado fez um documentário sobre a vida e da obra de Mário Peixoto, que mostra os 300 metros de fita que restaram das primeiras gravações do que seria o segundo filme de Mário Peixoto, além do making of de "Limite" e imagens do arquivo pessoal e depoimentos do cineasta, morto em 1998.

Em 1935 a empresa passou para a sua responsabilidade com o nome de Brasil Vita Filmes, para a qual construiu um estúdio e importou equipamentos, no bairro da Muda – Rio de Janeiro. A modernização do parque cinematográfico era uma das preocupações dos produtores brasileiros da década, marcada pelo sucesso dos filmes sonoros americanos.

Nesta época, Carmem Santos começou a dedicar-se ao projeto de filmar a história de Tiradentes começou a se esboçar juntamente com a instalação da companhia. Enquanto produzia e estrelava outros filmes, e após tentar a colaboração dos melhores diretores da época, como Humberto Mauro e Mário Peixoto, a produtora assumiu também a direção e o principal papel feminino do projeto, o de Bárbara Heliodora. A realização do filme, cercada de minuciosos cuidados com cenários e figurinos, foi pontuada por constantes interrupções, acarretando a substituição de técnicos e atores. Quando da sua estréia em 1948, Inconfidência Mineira foi recebido com descrédito e frieza pela crítica, tendo sido também boicotado pelos principais exibidores, antagonizados com a produtora. Esta seria a última realização de Carmem, que morreria de câncer em 1952.

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