sexta-feira, 4 de abril de 2008

Pastorinhas

MULHERES SANTIFICADAS

Em Outubro, mês da delicadeza e do céu azul, onde se comemora o dia das crianças e de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, vamos apresentar uma breve história da devoção de algumas mulheres e a religião. Começamos com Jacinta de São José, fundadora do Convento das Carmelitas do Rio de Janeiro.

O culto ao Carmelo nasceu na cidade de Porfíria, que hoje é conhecida como Haifa e fica nas terras tomadas por Israel. Nesta cidade os fenícios haviam erguido um altar a Baal, invocando proteção para suas viagens. O culto a esse deus profanado pela esposa do Rei Acab, Jesalém, recebeu a oposição do profeta Elias, que se estabeleceu em uma gruta, no Monte Carmelo, próximo a cidade. Inspirado pela idéia de penitência e solidão,o profeta fez de sua vida um permanente combate contra os pagãos, defendendo o monoteísmo.

Ressurgindo muitos séculos depois em plena Idade Média, o culto ao Carmelo, representou uma época de renovação da Igreja. As Cruzadas e a conquista de Jerusalém, em 1099, abrem a rota das grandes comunicações entre a Europa e o Oriente. Estamos no fim do século XII, quando a humanidade vive a experiência de grandes alterações sociais e espirituais. Igrejas e mosteiros são reedificados. Homens e mulheres procuram novos rumos de vida e afluem à Palestina, em busca dos Lugares Santos. Uns vão para o deserto, outros para as colinas, chegando ao Monte Carmelo, por volta do ano 1190.

Sabe-se que os primeiros ocidentais a se estabelecerem como eremitas no Monte Carmelo, tinham participado das Cruzadas. Viviam em cavernas, separados uns dos outros e se dedicavam a escrever longos manuscritos. Mais tarde passaram a ser chamados de Irmãos da Ordem da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo. Nesta época, os carmelitas pediram a Santo Alberto, que em 1214 era Patriarca de Jerusalém, para fazer uma Regra, de acordo com o modo de vida que estavam levando. Esta regra religiosa propaga, desde então, a solidão, a oração, a obediência, a castidade,o jejum e a abstinência de carnes.

A partir de 1237, quando a Palestina, passa a ser ameaçada pelos sarracenos, os eremitas do Carmelo, pouco a pouco, foram voltando aos seus países de origem, fazendo com que surgisse na Europa, os primeiros conventos: Messina, HuIne, e Cambridge, todos voltados a vida soltaria e contemplativa.

Durante três séculos, a Ordem se expande com a fundação de mosteiros masculinos, até a transformação promovida em 1562, por Santa Teresa, que funda um mosteiro em Ávila (Espanha). Sob a inspiração desta Santa, começam a surgir conventos femininos, muito mais rigorosos que os masculinos. Esta renovou o espírito contemplativo na Ordem pela prática da meditação diária, do silêncio e da mortificação, restaurando-se, assim, a perfeição da vida comunitária.

Os séculos XVI e XVIII se caracterizam pela expansão da devoção mariana, das Ordens terceiras e das Confrarias do escapulário para o Novo Mundo.
Na evangelização dos imensos territórios brasileiros, a Ordem do Carmo, tomou parte muito ativa e principal. Desde 1581, já existiam Carmelitas no Brasil. O primeiro convento fundado pelos Carmelitas Descalços se localizou na cidade da Bahia, que, na época, era Capital civil e religiosa da Colônia. Foi fundado pelo Pe. Frei José do Espírito Santo, o qual, junto com mais quatro companheiros, edificaram a Igreja e Convento de Sta. Teresa, inaugurados no ano de 1692. Trinta e dois anos após a fundação, constituíram o Colégio de Filosofia para estudantes portugueses vindos ao Brasil. É neste período que acontece a história de Jacinta de São José, filha de José Rodrigues Ayres, natural do Porto, e Maria de Lemos Pereira, do Rio de Janeiro, fundadora do Convento das Carmelitas do Rio de Janeiro.

Nascida aos 15 de outubro de 1715, no dia que se festeja Santa Teresa de Jesus, Jacinta com cerca de 14, resolveu tornar-se religiosa devota de Ordem Teresa e junto com seus irmãos, mudou-se para as ruínas do Convento do Desterro, que ficava na Lapa, com o objetivo de reerguer o templo religioso. Para tal, contou com a ajuda financeira de homens poderosos da colônia, como o Conde de Bobadela, Gomes Freire de Andrade, para quem citava os pensamento de Santa Teresa de Ávila.

Em 1743, a ermida fica pronta e Jacinta com sua irmã muda-se para lá, rompendo todas as relações pessoais e familiares que tinha. Desde então o Morro do Desterro passou a ser conhecido como Morro de Santa Teresa, e finalmente, bairro de Santa Teresa.
Um ano depois sua irmã morre. Mesmo triste, viaja para Portugal com a intenção de obter de D. João V, rei de Portugal, o reconhecimento oficial de sua Ordem. Nesta época, havia poucas mulheres brancas na Colônia e por este motivo estava proibido a criação de congregações religiosas femininas. Com o seu poder de convencimento. A autorização papal só foi dada em após a morte de Jacinta, ocorrida no dia 2 de outubro de1768.

Hoje, a Igreja e o Convento de Santa Teresa, mais conhecido como Convento das Carmelitas, é considerado como patrimônio histórico e cultural do Rio de Janeiro. Apesar das reformas que passou no século XX, ainda estão presentes aspectos do projeto original, os azulejos portugueses no seu interior, alguns elementos da fachada e a torre sineira. A visitação é terminantemente proibida, e ao entrarem ali, as mulheres fazem para sempre o seu voto de união com Deus.

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