sábado, 5 de abril de 2008

Parteiras: profissão dar a luz

No mês de maio, a Historia Feminina irá falar sobre aquelas mulheres há muitos séculos vêm ajudando no momento mais fundamental da vida de uma mulher, ser mãe. Vamos abordar o universo mental e gestual da gravidez e do parto no Brasil, trazendo à memória, a vida de algumas parteiras brasileiras, que ainda hoje são as únicas responsáveis pelo nascimento dos filhos de várias cidades no interior do país.
As parteiras são mulheres fortes, respeitadas pela comunidade por seu espírito religioso e comunitário, e estão presentes na hora em que a gravidez traz alguma complicação ou no momento em que se anuncia a vinda do bebê. Até o século XIX, com o surgimento da Obstetrícia, somente as mulheres cuidavam do assunto maternidade e isto significa que há em nós uma sabedoria milenar, que hoje está se apagando. Conhecer a vida destas mulheres é uma oportunidade de reconhecermos esta sabedoria.

Esta semana, não irá falar de alguém especial, mas das diferenças na visão das culturas que formaram o povo brasileiro, sobre a gravidez e o parto.

Conforme o relato do cronista Fernão Cardim, que passou por nossa terras lá pelo século XVII, as mulheres indígenas parindo, e parem no chão, não levantavam a criança, e sim pai ou alguma pessoa que tomam por seu compadre. O pai cortava-lhe a vide com os dentes ou com duas pedras e logo se punha a jejuar até que o umbigo da criança caísse. A mãe ia sozinha para o rio ou lagoa mais próxima, aonde se lavava várias vezes. Voltava para casa e encontrava o marido na rede, como se ele estivesse parido. Assim continuava a fazer os ofícios domésticos como se nada tivesse acontecido. Esta independência do parto indígena hoje é valorizada nas técnicas de cócoras e parto no escuro.

Aos portugueses cabe uma contribuição muito especial, as supertições, que ainda hoje arrematam a maioria dos tabus acerca da gravidez e do parto. Estas supertições, tinham a função de garantir que o bebê nascesse sadio e em tranqüilidade. A corrente se perpetua até hoje através de algumas parteiras, que promovem as seguintes sabedorias, ou supertições... Veja se você reconhece alguma:

Sobre a Gravidez...

• A mulher grávida não deve colocar um objeto sobre o seio, que o filho o trará impresso na carne. Se for chave causa lábio leporino, se for medalha, terá uma pinta escura.

• Se a mãe olhar uma eclipse lunar, o filho nascerá com uma meia lua no corpo. Se olhar bichos mortos, o filho terá problemas estéticos, nascera torto ou aleijado.

• Não deve atravessar água corrente se não perde o neném.

• Se pisar numa cobra esta morrerá.

• Se tomar um susto, o marido deve lavar imediatamente o rosto e dar a mulher de bebê, para um nascimento sadio.

• Quem prometer objeto à mulher grávida e não cumprir a promessa vai ficar com o rosto cheio de espinha.

• Se a grávida brincar com animais de pêlo, o filho será cabeludo.

Sobre o parto....

• As meninas que nascerem de bruços serão estéreis.Para a mulher não ter mais filho, depois do parto, tocar com a mão direita no altar ou por o nome do último filho de Geraldo.

• Depois do parto não pode olhar para escamas de peixe, senão a placenta não sairá.

• Mulheres de boca grande parem depressa.

• Mulher de mãos finas e perna grossa tem o parto difícil.

• Quadril estreito o parto é horroroso.

• Para facilitar na hora, deve –se dar para as mulheres uma beberagem feita de pimenta, sal, alho e água.

• E por fim, na roça, o marido deve montar a cavalo e sair em retas, mas deixar o seu chapéu na cabeça da mulher que está parindo, para que o sucesso seja total.

As africanas fizeram um mistura de tudo, das novas técnicas introduzidas pelos portugueses, com a independência das índias e os famosos ungüentos feitos da natureza, que eram de origem africana e árabe. Consideradas a origem das melhores parteiras do Brasil, traziam segurança às parturientes que nelas viam a encarnação dos espíritos da natureza. Uma característica destas parteiras é que tudo vem com uma receita, e receita gostosa, não o caldo de pimenta e a reclusão promovida pela cultura portuguesa. Por exemplo, para o bom parto é uma canja de galinha arrepiada, “abre as carnes” e facilita a saída do bebê. O cordão umbilical da criança deve ser enterrado em casa, para que ele ame sempre a família. Para se ter muito leite, canjiquinha na mãe. A boa comida, o prazer e a entrega à maternidade são uma lição destas parteiras africanas.

Tinha uma coisa bonita, que era típica do Brasil, inclusive das grandes cidades. As igrejas anunciavam o nascimento das crianças com nove baladas, seja a hora que fosse, a vida era celebrada.

Na semana que vêm vamos falar da Mãe Luíza, que nascida escrava no Amapá, ficou conhecida em todo o território nacional.

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