segunda-feira, 21 de abril de 2008

Carmen da Silva

A arte de ser mulher, foi o título da primeira coluna da jornalista Carmen da Silva, na Revista Cláudia, de 1963. Os tempos eram libertários, mas a imprensa feminina brasileira não, até surgir esta morena gaúcha, que pregava a liberdade das mulheres, influenciando todo o pensamento da segunda onda do feminismo no Brasil.

Nascida no Rio Grande do Sul no dia 31 de dezembro de 1919, só começa a exercer o jornalismo na década de 40, quando viveu no Uruguai e na Argentina. Pouco se sabe deste período, onde chegou a publicar um livro.
Sua vida se transforma quando se muda para o Rio de Janeiro, no início da década de 60, quando consolidou-se como jornalista voltada para revistas e colunas femininas, que contribuiriam para a formação do pensamento de gerações de mulheres brasileiras.

Em sua autobiografia, Histórias híbridas de uma senhora de respeito, lançada em 1984, Carmem da Silva atribuiu a grande receptividade do seu trabalho ao fato de que transmitia em seus colunas a sua experiência como jornmalista e mulher, as dificuldade amorosas e financeiras, sempre com muito bom humor e delicadeza.
Todavia, no começo suas palavras assustavam. A franqueza com que expunha suas idéias e narrava os fracassos e conquistas, gerando uma espécie de jornalismo feminino que faz muito sucesso hoje, foi conquistado por Carmem da Silva. Segundo ela “meus artigos caíram como UFOs incandescentes no marasmo em que dormitava a mulher brasileira naquela época. Logo comecei a receber uma avalancha de cartas de todos os tons: desesperados apelos. xingamentos, pedidos de clemência: deixem-nos em paz, preferimos não saber! consciência dói...”.

Com o tempo, o vínculo entre a jornalista e as leitoras foi se tornando cada vez mais forte. Encorajada por uma correspondência cada vez mais íntima, publicava os desafios e confidências que recebia com pseudônimo nos jornais, expressando junto a estas cartas seus medos e ambivalências. Com a coluna A arte de ser mulher, conquistaria o sucesso definitivo. Ali defendia que a mulher deveria tornar-se um ser humano total e participante. Desmistificava a rainha do lar, mostrando a limitação dos horizontes da mulher, de quem a sociedade não exigia mais do que as habilidades necessárias às tarefas domésticas. Para ela, a mulher tradicional, a dona de casa, deveria abrir as janelas para o mundo, tornar-se uma pessoa ativa em seu meio social e, principalmente, construir a vida a partir do eu-real, sem ilusões ou miragens, conquistando opiniões e valores próprios baseados na experiência da vida. O mais interessante em seu pensamento era a defesa permanente de uma relação companheira entre homem-mulher e, a necessidade de respeito entre pais e filhos, pela superação de preconceitos e tabus.

O termo feminismo só entraria nos seus artigos na década de 70, pois como ela mesma dizia, era ainda um bicho-papão e poderia afasta-la da imprensa. A partir daí dedicaria boa parte de seus artigos ao tema, participaria ativamente nas principais manifestações públicas em defesa dos direitos da mulher. Na inesquecível passeata organizada pelo movimento feminista no centro do Rio de Janeiro em 1985, estava na frente de todas as mulheres, vestida de liberdade.

Sua morte foi totalmente inesperada. Estava dando uma palestra em Volta Redonda quando a sua barriga começou a inchar. Brincando com o público dizia ter ficado grávida de um momento para o outro, na verdade era um aneurisma abdominal, que a matou estupidamente horas depois, no dia 29 de abril de 1985.

Nenhum comentário: