quinta-feira, 10 de abril de 2008

Feiticeiras

BRUXAS, FEITICEIRAS E A INQUISIÇÃO

Fossem bruxas, por serem idosas e andrajosas, ou, feiticeiras, por cozinharam e pensarem de maneira diferente, muitas mulheres foram queimadas pela inquisição e nesta semana iremos conhecer como algumas brasileiras botaram medo na sociedade colonial, por serem diferentes e ousadas, e como foram punidas por isto.

Dois tipos de mulheres aterrorizavam a sociedade durante os terríveis anos da inquisição : a bruxa e a feiticeira.

A bruxa é uma criação muito antiga da cultura européia e chegou ao Brasil através dos portugueses. Geralmente velha, magra, enrugada, horrorosa de feiúra e hedionda de sujeira, era representada vestida com trapos, acompanhada de um saco cheio de coisas misteriosas. A bruxa tinha duas funções clássicas. A mais poderosa ainda hoje está relacionada com a angústia infantil, o medo da noite e o pavor diante do sono. A outra, era ser uma alegoria da camada miserável das cidades medievais, onde as mulheres que não possuíssem riquezas de nascimento, se tornassem viúvas ou não se comportassem como o requerido pela sociedade, eram condenadas à rua e desfiguradas de sua condição humana. Nesta época, havia uma supertição de que a sétima filha seguida de uma mulher seria bruxa se não recebesse o nome de Adão, com as letras trocadas. Já imaginaram as variações : Daao, Adoa, Doaa, Odaa, Oada, etc...Além disto eram comuns outros rituais para evitar que a bruxa entrasse em casa durante a noite e chupasse o umbigo dos recém nascidos, ou outras malvadezas típicas das bruxas de outrora. Usava-se sal grosso na entrada, faca atrás da porta, cruz feita com ramos de trigo ou ramos de trigos soltos pela casa, pois quando a bruxa entrasse não iria resistir em contar cada um deles e assim o dia chegava logo e ela teria que ir embora. Voltando ao artigo da semana passada, o marido da bruxa, nas supertições populares, era o judeu errante, estando combinada então, toda a trama da perseguição inquisitória.

A feiticeira, que podia ser linda e jovem quando quisesse, exercia ao mesmo tempo fascinação e medo. Era todo o tipo de mulher que dominasse alguma prática de magia, com ou sem cerimônia religiosa. Lá na Europa ela era respeitada e estava sempre entre o bem e o mal. É só recuperar as tragédias gregas, os contos dos Irmãos Grimm, toda a história da Inglaterra através dos cavaleiros da Távola Redonda e a formação dos estados nacionais, que veremos sempre a presença influenciadora de uma feiticeira. As feiticeiras tinham um papel mais importante, pois sabiam através de suas ervas e ritos, curar todos os tipos de males que acometem os homens desde a antiguidade, isto é, o amor desenganado e à presença peremptória da morte. A feiticeira dá origem ao termo feitiço, que é português e foi cunhado em plena época do Renascimento. Por sua vez, feitiço é a origem da palavra fetiche, que hoje é parte fundamental do nosso vocabulário amoroso. Ou seja, toda mulher atual que quer ser sensual tem uma dívida com as feiticeiras de antigamente, e ao seu incrível poder de dominação de séculos de nossa cultura.

Saindo desta viagem pelo folclore, veremos que durante a Inquisição, à ficção deu lugar a perseguições terríveis como aconteceu com as seguintes mulheres:

Antônia Fernandes, a Nóbrega era portuguesa do século XVI e foi condenada ao degredo para o Brasil por ensinar e oferecer beberagens destinadas a trazer de volta o amor perdido. Uma das misturas descritas no livro das visitações inquisitoriais era composta por cabelos e pêlos de todo o corpo, pedaços das unhas dos pés e um pedaço da unha mínima do pé dela mesma. Cabia à interessada misturar tudo isto em uma sopa e digeri-la. As suas fezes seguintes eram transformadas em pó pela Nóbrega, que fazia uma poção mágica com caldo de galinha. Esta poção deveria ser oferecida ao homem amado. O resultado era a paixão reacendida. Outra magia desta feiticeira era ensinar palavras mágicas que ditas na hora do amor deixavam os homens loucos de prazer. Ela não chegou a ser queimada, mas sua filha sim.

Maria Joana de Azevedo nasceu no Maranhão no século XVIII, mas atuava em Belém do Pará, onde foi condenada pela Inquisição. A acusação era que ela transmitia as suas iniciadas ladainhas mágicas destinadas ao exorcismo e realizar banhos, em plena mata, para afastar forças ocultas. Quando deu seu depoimento, confirmou todas as práticas e disse que estava arrependida. Por isto, foi libertada, mas teve que permanecer à disposição do Santo Ofício, repetindo diversas vezes suas desculpas.

Luzia Pinto era angolana e veio para Minas Gerais em pleno século XVIII. Quando tinha 51 anos foi denunciada por bruxaria ao Santo Ofício e enviada prisioneira para Portugal, sob acusação de fazer um pacto com o demônio. No dia 21 de junho de 1744, foi submetida a uma cerimônia pública de punição pelas ruas de Lisboa, na qual os condenados ficavam perfilados, segurando nas mãos uma vela imensa que queimavam-lhe os membros e expostos ao chingamento popular. Depois disto, foi encarcerada e nunca mais pode retornar ao Brasil.

Ludovina Ferreira era de Belém do Pará, e o seu poder de cura era famoso nas redondezas. Foi denunciada à Inquisição por uma escrava que dizia ter feito rezas curadoras para uma senhora que estava preste a morrer de hemorragia uterina. Quando prestou depoimento, disse que trabalhava com um companheiro chamado Antônio, que era índio. Foi duplamente condenada, por fazer curas e ser amante de um índio, coisa que mulher branca não podia sê-lo.

Sabina nasceu em 1726, era filha de índios e morava no Pará. Acusada de exorcismo e ocultismo, seu poder de cura e ritos eram amplamente conhecidos na região, principalmente pelos poderosos que viviam se servido dos seus conhecimentos. Um deles, em depoimento ao Santo Ofício descreve assim os afazeres da bruxa, citado pelo Dicionário Mulheres do Brasil – de 1500 até a atualidade : “ Chegando pediu logo um cachimbo com tabaco e fogo, fez cruzes com o dedo polegar na testa e falando Padre, Filho, Espírito Santo e Virgem Maria...Defumou o olho direito do paciente e lhe introduziu a própria língua, andando com ela a rodado do dito olho pela parte interior e depois desta diligência fez ação de vomitar e lançou na sua mão um bicho com forma de lairas pela parte do rabo... “. Foi condenada ao fogo por isto.

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